segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NA MORTE DA MAGNÓLIA DO CONVENTO


No discurso realizado na sessão de Tomada de Posse dos Órgãos Sociais o Conselheiro Mor relacionou a morte da centenária e enorme Magnólia do Convento com a memória da serra, das suas gentes, do seu árduo trabalho e das suas tradições. Disse que era um registo histórico que se perdeu e que foi sendo guardado no lenho dessa árvore que ao longo dos séculos foi vendo nascer Monchique aos seus pés. Disse que, contudo, ela, como toda a memória que  representa, continuará viva se nós a relembrarmos; que as coisas só morrem quando são esquecidas. Esta referência serviu para sintetizar os objetivos da confraria e o papel que poderá ter como guardiã da nossa história e das nossas tradições e saberes. A morte da magnólia coincide com a nascença da confraria e, assim, esta é como se fosse a herdeira da sua memória.
Essa mensagem foi passada de modo simbólico através dum poema escrito propositadamente para ser lido na altura, também ela histórica, da primeira tomada de posse da confraria. Como alguns confrades pediram a sua publicação, aqui fica:

MAGNÓLIA DO CONVENTO

AGORA QUE TE VAIS
QUE CONTAS TU
DOS BEIJOS QUE SE DERAM
À TUA SOMBRA

QUE CONTAS TU
DOS ABRAÇOS QUE SE DERAM
PARA SENTIR A TUA DIMENSÃO


QUE NOS RELEMBRAS DE OUTROS TEMPOS FRANCISCANOS
QUE VISTE
QUE SENTISTE
DO ALTO DA TUA COPA
MIRANDO TODO O POVOADO

QUE NOS CONTAS TU
SOBRE AS CASAS E AS RUAS ESTREITAS
E OS SOCALCOS CAVADOS NA MONTANHA
PARA DESBRAVAR O CHÃO
E FAZER CRESCER OS POMARES DE MACIEIRAS
E OS CAMPOS E OS OLHARES

QUE NOS RELEMBRAS DAS DANÇAS NAS EIRAS
E DOS CANTARES ECOADOS NOS VALES
PARA  ALENTAR  OS ALMOCREVES VENCENDO
OS CAMINHOS PEDREGOSOS
NO TRANSPORTE DAS MADEIRAS
DA CORTIÇA
E DA AGUARDENTE DE MEDRONHO



CONTA-NOS COMO OS SERRANOS
SE VESTIAM AO DOMINGO
E ORNAMENTAVAM AS RUAS COM ROSMANINHO
PARA PASSAR A PROCISSÃO

CONTA-NOS COMO SE JUNTAVAM NAS MADRUGADAS
APANHANDO A ESPIGA DE TRIGO
E O RAMO DA OLIVEIRA



CONTA-NOS COMO ERA GRANDE A FEIRA
E MUITO O GADO
QUANTOS ERAM OS SALTIBANCOS
E OS TROVADORES CANTANDO AS DESGRAÇAS

CONTA-NOS SE ALGUMA VEZ
OS  VENDEDORES   DE BANHA DA COBRA FIZERAM UM MILAGRE
OU SE UMA SINA LIDA PELAS CIGANAS BATEU CERTO

OU COMO ERAM BOAS AS BOLOTAS TORRADAS E O TORRÃO DE ALICANTE
E DIVERTIDO ENTAR NAS COLORIDAS BARRACAS
DOS ESPELHOS CURVOS
OU DOS BONECOS DA CACHAMURRADA


CONTA-NOS QUANTAS JOLDRAS SAÍAM A CANTAR
AS JANEIRAS E OS REIS
E QUANTAS FILHÓS E COPOS DE MEDRONHO CONVIVIAM
COM O ALFORGE NA RECOLHA DOS MOLHES E FARINHEIRAS
E QUANTAS ERAM AS BEBEDEIRAS

CONTA-NOS TAMBÉM DE OUTRAS BEBEDEIRAS
QUE SEGURAVAM OS PENDÕES NA PROCISSÃO
DA QUINTA FEIRA NAS  ENDOENÇAS



RELEMBRA-NOS OS TEMPOS
EM QUE AS PAREDES ERAM PEQUENAS

MAS AS CASAS ERAM GRANDES NA SUA ALMA

E TU VISTE ISSO TUDO

E AGORA QUE TE VAIS
E LEVAS MUITO DESTE POVOADO

MORRE DE PÉ
QUE É COMO AS ÁRVORES CENTENÁRIAS DEVEM MORRER

E DEIXA-NOS A TUA MEMÓRIA TODA

29.11.2011

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